Fazemos hoje certos 4 meses, e será amanha o dia certo em que irás partir, não para sempre mas para um 'grande' momento.
Eu compreendo irás em família mas vai custar-me tanto a sua ausência meu amor!
Perco-me nos meus pensamentos, até que chegas e me pões com uma grande sorriso nos lábios.
- Meu amor, passa-se alguma coisa? – Perguntou preocupado
- Eu não sei como irei sobreviver sem ti ao meu lado dia após dia, porque por mais que as pessoas pensem que foi só uma paixão de verão tu és muito mais que isso, e juntos ainda havemos de provar isso a todas aquelas pessoas que nos questionam – tentei explicar-lhe.
- Eu no fundo peço-te realmente poucas coisas; peço-te que consigas esperar, confiar e aguentar. Não por mim, não por ti, por nós Matilde – disse ele.
E foi ai, que as minhas lágrimas caíram e toda a minha dor, que sempre foi escondida por detrás do meu sorriso se fez notar.
Tentei conter-me, pois tinha prometido nunca chorar na presença dele, tentei ver as coisas pelo lado positivo e encarar as coisas com boa cara tal como faço sempre, como todos os obstáculos que vão surgindo ao longo da minha vida, mas naquele momento não existiam lados positivos, nem sorrisos que conseguissem disfarçar aquilo que eu sentia.
E foi assim que mais uma noite passei, acordada até as tantas da noite ou da madrugada, encostada nas minhas almofadas a ver o nevoeiro cada vez mais subir por cima das casas, impedindo a visão de qualquer um, aliás visão tínhamos, mas uma visão de poucos centímetros, o que nos impedia de ter algum ou qualquer sentido de orientação, eu ainda tinha esperança que os pais dele tivessem alguma misericórdia por nos e o deixassem ficar cá, apesar da passagem deles estar marcada para daqui a poucas horas, eu ainda esperava isso!
As horas passavam, os programas da televisão tornaram-se aborrecidos, e os meus olhos aos poucos e poucos iam-se fechando e entregando-se ao sono que eu tanto tinha, mas o nervoso miudinho que eu tinha não me permitia adormecer.
Ele não sabe, nem sonha as saudades que eu sinto dele e ele ainda nem foi embora.
Cada vez que olho para a tua fotografia na mesa de cabeceira, lembro-me de todos os momentos passados juntos, e só me dá vontade de saltar para dentro da fotografia e abraçar-te como se não houvesse amanha, mas infelizmente não posso.
Sinceramente, não há nada melhor do que estar com ele. Não há nada melhor do que acordar com a sua voz e com as doces palavras dele. Torna-se tudo tão mágico, mesmo se eu dar por isso.
Ele é realmente perfeito, mesmo que digam que o perfeito não existe. Para mim ele existe, e é o Pedro, mesmo com todos os defeitos chapados na cara. Não interessa, ele é perfeito. Perfeito a sua maneira e é assim que eu quero que continue sempre.
A campainha tocou, era a Mónica, mãe do Pedro, eu tinha-lhe pedido que passa-se por aqui para os acompanhar até ao aeroporto.
Entrei para o carro, todos estavam bastante entusiasmados excepto Pedro.
Permanecia imóvel, olhando para o exterior, encaixei a minha mão na dele, foi ai que se virou e sorriu.
- Estas bem? – Sussurrei ao ouvido dele
- Não – respondeu-me
- Que se passa contigo? – Perguntei-lhe, como se já não fizesse ideia do que seria
- Preciso de espaço, preciso de pensar, de estar sozinho, pensar em tudo com calma – respondeu-me com arrogância.
- Precisas? – Perguntei-lhe espantada.
- Não… – disse
- Então porque dizes-te que precisavas? – Perguntei-lhe, sem já saber o que pensar.
- Porque o que eu preciso na realidade, eu não tenho… – Reclamou, virando-se novamente para a janela.
- E o que é que precisas? – Perguntei
- Preciso de ti, comigo, todos os minutos…
- O medo é inevitável. Por mais que se sofra por ele, ele vai estar sempre atravessado em todos os caminhos da nossa vida. Damos um passo e lá está ele, e ali outro, ao virar da esquina. Mas a vida é mesmo assim, cheia de medos e coragem.
Eu, por mais medo que tenha de te perder, tenho sempre algo a sussurrar-me ao ouvido e a dizer "não, ele não se vai embora", e aí eu tranquilizo, porque há uma espécie de força interior que diz para me acalmar e que tudo não passa de uma breve fase. E para quê gastar energias se eu sinto que sou amada e que pertenço aos teus braços? Não vale a pena, tenho consciência que nos amamos um ao outro e que por mais voltas que a vida dê, o conforto de um vai ser sempre os braços do outro. É no teu coração que me sinto em casa, é no teu coração que me sinto livre e feliz, como um pássaro. Por isso, nunca digam que "isso não vai resultar", "acho muito difícil"... Para quê? Aqui quem tem de acreditar em alguma coisa sou eu e tu. Aliás, nós sempre acreditámos, e até agora nada falhou. Sabes porquê? Porque nos amamos e confiamos um no outro, e não há nada melhor do que isso.